A ética da guerra

Haveria alguma justificativa minimamente moral ou razoável para uma Guerra?

Matar um ser humano não é sempre errado? Afinal de contas está escrito nos 10 mandamentos: não matarás

Será que então, nessa situação recente de guerra todos os judeus deveriam oferecer a outra face e morrer sem estardalhaços?

Algumas pessoas ficam realmente confusas com essas questões, pois, além de terem um conhecimento bastante limitado da Bíblia, vivem muito longe de zonas de conflitos armados e nunca refletiram sobre isso. 

Para iniciarmos nossa análise, é importante entender que, quando a Bíblia diz: Não matarás / lo tirtzar  / לא תרצח , está dizendo para não se comenter assassinato. Assassinato é:  eliminar por raiva, destuir por ódio,  abater para roubar, extinguir para fazer calar. 

Na Bíblia, em circunstâncias específicas, matar não é apenas uma possibilidade mas um dever. 

Alguém poderia argumentar: “Mas isso, foi na época do Antigo Testamento, na época do “olho por olho, dente por dente”. Ora, “olho por olho, dente por dente” talvez a frase mais mal compreendida da Bíblia.

A maioria entende essa frase como se estivesse dizendo:

“Se você me der um soco, eu te dou um também.

Se você puxa meu cabelo, eu puxo o seu…” e assim por diante. 

Aqueles que assim entendem, ensinam que esse tipo de atitude é errada, pois endossa a vingança. Adicionado a isso, segue a crença de que a solução sempre seria adotar a recomendação de Jesus de oferecer a outra face.

Analisemos as suposições acima:

Primeiramente precisamos esclarecer o verdadeiro significado da expressão: olho por olho, dente por dente.

Ao contrário do que a maioria pensa, olho por olho não é uma recomendação para vingança. Olho por olho, dente por dente, é justamente a fórmula para se terminar o conflito!

Vejamos: Se você estragou a bicicleta do seu próximo, você deve consertar a bicicleta dele. Se estragou o carro do próximo, deve consertar o carro dele. Simples assim.  Ou seja, a Bíblia está solucionando o conflito ao ensinar sobre o princípio da restituição proporcional ao prejuízo e o princípio da pena proporcional ao crime. Esses princípios não são vingança!

Pena proporcional ao crime não é necessariamente um conceito religioso, mas bom senso. No código jurídico do Brasil está escrito que  as sanções criminais devem ser proporcionais à gravidade dos delitos praticados, e, deve haver restituição proporcional. O sistema jurídico de outros países civilizados se guiam por esse princípio.

Analisando a suposição de que toda solução para qualquer agressão seria oferecer a outra face, é necessário uma análise mais profunda.

Imagine que lhe seja confiada a vida de 20 crianças. Os pais têm de sair e deixar os  filhos deles sob sua responsabilidade. Mas um  homem violento força a porta e ameaça matá-las. Qual seria seu dever? Entregar a cada uma das crianças,  para que sejam mortas? 

Ora, não seria moralmente aceitável abrir a porta e deixar as crianças morrerem em nome da “paz”. Isso não seria um comportamento moral, pelo contrário, seria covardia e traição.

O moralmente correto é tentar barrar o inimigo, mas, às vezes, isso pode significar ter que matá-lo.

De forma semelhante, uma guerra, pode ser ética enquanto que, a paz a qualquer preço, pode ser covardia. 

No Novo Testamento temos Jesus visitando o templo durante a festa judaica de Hanukkah, ou a Festa da Dedicação:

Celebrava-se em Jerusalém a Festa da Dedicação/ Hanukkah. Era inverno.
Jesus passeava no templo, no Pórtico de Salomão.
João 10.23 e 23

A festa de Hanukah/Dedicação celebra a vitória dos judeus sobre o domínio dos Gregos. Essa vitória  foi conquistada após três anos de guerra! Ora, se Jesus fosse um pacifista a qualquer preço, ele não poderia estar presente na celebração de uma vitória  militar!  

Jesus não ensinou ninguém a ser covarde ou omisso, e, o fato dele estar presente no Templo justamente naquela época indica que ele endossou, com a sua presença, uma guerra. 

Alguém, ainda em dúvida, poderia argumentar lembrando da  ocasião quando Pedro, tentando defender Jesus , corta a orelha do servo do sumo sacerdote. Naquela ocasião, Jesus curou o ferido e repreendeu a Pedro pelo uso da espada. 

Ora, o contexto no qual Jesus repreende Pedro por usar a espada, era um contexto totalmente diferente. Não havia ninguém sendo ameaçado sob a responsabilidade de Jesus.

Aquele era um momento muito específico, havia um propósito naquilo. A morte substitutiva de Jesus fazia parte do plano divino. Além disso,  a bíblia ensina que não se propaga a fé usando a espada. 

No judaísmo está claro que a escolha religiosa é um ato individual.  É a expressão do livre arbítrio. O livre arbítrio é inerente ao ser humano. Ninguém pode impor a outro uma determinada fé.

Agora, o que caracterizaria uma guerra moral? 

Hoje, organismos internacionais tendenciosos como a ONU dizem: “Sim, 1.200 pessoas foram massacradas pelo Hamas, mas agora, milhares de palestinos foram mortos.”

Será que uma guerra na qual um lado mata mais do que o outro seria imoral? Não necessariamente. 

O critério da moralidade leva em consideração  não apenas o número de pessoas envolvidas, mas  a intenção e a forma como são feitas as ações de guerra.

O assassinato deliberado e proposital de civis é completamente diferente de, um exército ao defender a vida de seus concidadãos, ser forçado pelas circunstâncias, atacar um alvo, e com isso, ceifar vidas não intencionalmente. Entender essa diferença, é compreender a essência de uma civilização moral.

O direito internacional não é um pacto suicida, não é exigir que Israel entregue seus cidadãos para morrer sem incomodar ninguém.  Ora, se um estado é criticado por se defender de acordo com o direito internacional, as organizações terroristas acabaram se sentindo encorajadas e confiantes para continuar a praticar o mal.

Isso é particularmente perigoso, pois o antisemitismo sistêmico tem raízes profundamente espirituais. Esta energia maligna, funciona como sementes que podem ficar dormentes por vários anos até que de tempos em tempos brotam instigando ódio e violência contra os judeus.  

Apesar de na Bíblia contém profecias de restauração de todos os povos, antes da humanidade entrar nesse tempo maravilhoso, Jesus, o Messias, virá como um general. Quando isso acontecer, aquele estereótipo equivocado do Jesus pacifista, cairá por terra totalmente. 

A Bíblia diz que, no final dos tempo, Yeshua matará o ímpio pelo sopro da sua boca.

Diz também que, ele esmagará a cabeça do ímpio e que o sangue dos povos inimigos irá respingar suas vestes. Essa verdade pode ser encontrada no seguinte diálogo entre o profeta Isaías e o Messias. Vejamos:

Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes de vivas cores, que é glorioso em sua vestidura, que marcha na plenitude da sua força? 

Sou eu que falo em justiça, poderoso para salvar.

Por que está vermelho o traje, e as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar?

O lagar, eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo; pisei as uvas na minha ira; no meu furor, as esmaguei, e o seu sangue me salpicou as vestes e me manchou o traje todo.
P
orque o dia da vingança me estava no coração, e o ano dos meus redimidos é chegado. Olhei, e não havia quem me ajudasse, e admirei-me de não haver quem me sustivesse; pelo que o meu próprio braço me trouxe a salvação, e o meu furor me susteve.
Na minha ira, pisei os povos, no meu furor, embriaguei-os, derramando por terra o seu sangue.
Isaías 63.1 a 6

Ora, nesse retorno de Jesus, ele não virá como um cordeiro para ser sacrificado, mas virá como um juiz. Ele, somente Ele, pode derramar sangue de forma a estabelecer o reino pois ele é Deus e ele é o único que nunca cometeu nenhum pecado.
Essa missão, específica, será feita em um tempo específico e não cabe a ninguém, nenhum grupo, tentar estabelecer o reinado messiãnico. Não há espaço para nenhum tipo de Jihad, ou seja, “guerra santa”, nem nenhum tipo de Cruzada, que foi também um tipo de “Guerra Santa”.
Infelizmente a história humana testemunha várias ocasiões onde um povo quis impor a sua religião a outro povo através da força, através das armas. Esses eventos traumáticos da história são uma demonstração clara de que muitos sistemas religiosos estão muito distantes do Deus de Israel.

As cruzadas que o cristinaismo promoveu na idade média, foram verdadeiras carnificinas perpetradas em nome de Deus.

De forma semelhante, temos hoje a Jihad Islâmica, ou seja, a guerra santa, que, como o objetivo de submeter o mundo ao domínio do Islã, usa da violência para se impor.

Nesse contexto, a ideologia da paz a qualquer custo, torna-se uma aliada da violência. Essa aliança com a maldade é sutil e muitas vezes seus defensores não se dão conta de que suas boas intenções, colocadas no lugar errado, tornam-se instrumentos de opressão.

Aqueles que, para defender a não retaliação, perguntam: Mas a guerra vai trazer a solução definitiva?

Ora, é claro que uma guerra é uma solução temporária, é claro que a guerra deve ser evitada. A solução final dos conflitos da humanidade acontecerá somente com a vinda do Messias, mas enquanto isso não acontece, não se pode, em nome da paz, aceitar uma ideologia que busca a aniquilação do ser humano.

Apesar da guerra não ser a solução ideal, não existe superioridade nenhuma em se prescrever a paz a qualquer custo. Geralmente aqueles que estão sempre do lado da paz, encontram-se protegidos em seus lares e se sentem à vontade para prescrever ao resto do mundo suas fórmulas mágicas. Essa pseudo superioridade conceitual além de enganosa é um instrumento perverso de preservação de sistemas de opressão aos quais somos conclamados a lutar contra.