No início do livro de gênesis, logo após o homem e a mulher acreditarem na serpente e desobedecerem a Deus, comendo o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, Deus faz uma afirmação instigante contra a serpente:
Porei inimizade entre ti e a mulher,
entre a tua descendência e o seu descendente/ זַרְעָ֑הּ / zar-a.
Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar.
Gênesis 3.15
Essa famosa frase nos trás uma pergunta: Estaria Deus dando a mulher, justamente aquela que primeiro caiu no engano, a chance de se tornar um canal para desfazer o erro cometido?
Será que seria da semente/zera/ זֶרַע da mulher que vira um redentor? Ou seja, será que quando Deus disse “Este te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” ele estava dizendo que um determinado descendente da mulher iria trazer reconciliação da humanidade com Deus e que, durante esse processo, ele iria sofrer algum tipo de dano?
A expectativa de que um filho especial iria nascer cumprindo essa nobre missão é a base de toda esperança messiânica.
Porque será que Deus, ao se referir a esse tal descendente, declara que ele viria exclusivamente da semente /zera/ זֶרַע de uma mulher? Porque citar somente a semente feminina?
Será que essa promessa misteriosa, ajuda explicar o particular interesse pela maternidade que permeia várias histórias judaicas?
A narrativa bíblica, diferentemente de outras histórias antigas, é marcada por dramas onde a luta por conceber é tão forte que leva algumas mulheres a atitudes extremas.
Uma dessas histórias se encontra no capítulo 38 de Gênesis. Nessa incrível trama, a protagonista, Tamar, usa de uma estratégia radical em busca da maternidade. Ela se disfarça fingindo ser uma prostituta, para conseguir seduzir o seu próprio sogro, e assim, finalmente, se engravidar.
As escrituras não comentam nem condenam a estratégia de Tamar. Pelo contrário, Tamar tem a honra de ter seu nome mencionado na benção que Rute, bisavó do Rei Davi, recebe em seu casamento (Rute 4. 12) e, além disso, o nome de Tamar é mencionado na genealogia de Jesus (Mateus 1.3).
Se a bíblia é realmente um livro de inspiração divina, seus relatos não podem ser vistos apenas como simples histórias, pois, além de contarem um fato real ocorrido, elas devem conter também chaves messiânicas.
Esse tipo de leitura revela segredos inesperados que apenas os leitores mais treinados conseguem perceber.
Neste caso, devemos refletir: Seria a esperança de gerar o messias a verdadeira a motivação por trás do comportamento aparentemente irracional e obstinado de Tamar?
Se Tamar conscientemente, ou não, buscou gerar o messias , não podemos provar, mas… se pensarmos bem…, foi exatamente isso que aconteceu! Yeshua descende de Tamar!
Vale a pena lembrar que, Tamar quando seduziu o sogro não agiu como uma adultera, na verdade ela havia se casado com o filho mais velho de Judá que morreu e depois com o segundo filho de Judá que também morreu, e então, estava viúva na época assim como Judá também estava viuvo na época. Ninguém adulterou.
Pensar que as mulheres do passado bíblico só poderiam ser validadas devido ao seu papel de mãe, é uma hipótese fraca. Várias mulheres destacadas na Bíblia são mencionadas independentemente de suas funções maternas: a rainha Ester, a profeta Débora e Abigail, uma das esposas do rei Davi, são alguns exemplos.
Outro personagem que de maneira bastante ousada arrisca sua reputação a fim de conceber foi Maria. Maria também corre o risco de ser difamada ou mesmo condenada por um tribunal quando aceita engravidar antes de estar casada.
Portanto, a vida de Tamar e a vida de Maria estão ligadas! Existe um paralelo temático conectanto as duas mulheres.
A natureza divina do Messias e seu nascimento virginal costuma gerar muitas dificuldades. Críticos da ideia de um nascimento virginal estão convictos que essa história teria sido inspirada pelo paganismo grego.
Entretanto, parte daqueles que fazem essa crítica, creem em outra fantástica história bíblica: a criação do homem.
O relato do início da existência humana na terra estabelece que o ser humano se originou a partir do componente material: terra; unido ao componente divino: sopro de Deus.
Dessa combinação entre o mundo material e o mundo espiritual, a partir desse evento único, todos os seres humanos foram derivados.
Se pessoas de fé aceitam como verdade que a fórmula: terra/matéria, unida a ao Espírito/sopro de Deus, tenha gerado o primeiro Adão, então porquê se opor a fórmula idêntica que aparece no Novo Testamento: matéria/semente da mulher, unida ao Espírito/sopro de Deus, gerando o segundo Adão?
A lógica da criação do primeiro homem, e a lógica da geração do Filho do Homem não deveriam seguir o mesmo padrão?
Outro motivo que reforça a tese do nascimento virginal é que, um salvador cuja natureza fosse exclusivamente humana, que fosse formado de maneira comum à partir da semente do homem e da mulher estaria sujeito às mesmas limitações dos seres humanos, e por conseguinte, não estaria em posição de salvar.
Seria como, por exemplo, a situação do capitão de um navio que está afundando. O fato do capitão estar dentro do navio, e portanto, estar sujeito às mesmas circunstâncias dos outros passageiros, o impede de prevenir o naufrágio. Por melhor que seja este capitão, ele não poderá mudar a situação. Somente alguém agindo de fora do navio poderia salvar os passageiros.
Um Messias limitado pela dimensão humana, não poderá interferir no destino da humanidade. Um Messias que é o próprio Deus, e que existe concomitantemente dentro e fora do mundo material, pode mudar tudo.