Muitos sentem um profundo desconforto quando leem na bíblia a história de Deus ter pedido para Abraão sacrificar seu filho Isaque a Ele.
Mas que história horrível! Mesmo sabendo que seria um teste, que teste mórbido seria esse? Será que um Deus bondoso necessita tanto saber que um homem estaria disposto a sacrificar o seu próprio filho como sinal de devoção?
Num primeiro olhar, essa história parece depor contra o caráter de Deus, afinal de contas, Deus não proibiu o sacrifício humano? Os primitivos pagãos não eram os que sacrificavam os seus filhos para apaziguar seus “deuses”?
Muitas perguntas como essa são respondidas através de uma leitura cuidadosa.
O primeiro erro, e o mais comum é imaginar que Abraão, um homem adulto, estaria levando ao sacrifício uma criança. Isso simplesmente não é verdade, haja visto que no texto diz explicitamente que Isaque caregou a lenha para o Holocausto. Só essa observação já é suficiente para julgar por terra a cena completamente falsa do Pai adulto levando seu filho inocente e indefeso para um sacrifício macabro! Apenas um adulto forte poderia carregar nas costas lenha suficiente para se queimar um corpo. Isso muda completamente a cena e introduz algo completamente diferente. Está escrito:
Levantou-se, pois, Abraão de madrugada e, tendo preparado o seu jumento, tomou consigo dois dos seus servos e a Isaque, seu filho; rachou lenha para o holocausto e foi para o lugar que Deus lhe havia indicado.
Gênesis 22.3
Tomou Abraão a lenha do holocausto e a colocou sobre Isaque, seu filho (…) Gênesis 22.6
O fato de Isaque ter carregado a lenha, indica que ele não era uma criança. A tradição judaica calcula que Isaque teria 37 anos quando esse teste aconteceu. Uma das pistas mais importantes para o cálculo da idade de Isaque é o contexto da história.
Imediatamente após o teste, a bíblia relata a morte de Sara, mãe de Isaque. Ela diz especificamente que ela morre aos 127 anos:
Tendo Sara vivido cento e vinte e sete anos,
morreu em Quiriate-Arba, que é Hebrom, (…)
Gênesis 23.1,2
Acontece que ela tinha 90 anos quando Isaque nasceu. Portanto, Isaque teria cerca de 37 anos quando ela morreu. Vejamos:
(…) Dará à luz Sara com seus noventa anos? Gênesis 17.17
Sara dá à luz: 90 anos Isaque nasce: 0 anos
Sara morre : 127 anos Isaque: 37 anos
Além da bíblia, sabemos que Isaque foi consolado pela morte da sua mãe quando casou com Rebeca. Sabemos também que Isaque esse casamento aconteceu 3 anos após a morte de sua mãe pois a bíblia menciona especificamente que Isaque tinha 40 anos quando isso aconteceu. Vejamos:
Isaque conduziu-a ( Rebeca) até à tenda de Sara, mãe dele,
e tomou a Rebeca, e esta lhe foi por mulher. Ele a amou; assim, foi Isaque consolado depois da morte de sua mãe.
Gênesis 24.67
” Era Isaque de quarenta anos, quando tomou por esposa a Rebeca (…) Gênesis 25.20
Ora, vamos recapitular: Isaque, um forte adulto de 37 anos, forte o suficiente para se opor a um velho de 137 anos, sobe a um monte e se oferece em sacrifício a Deus. Isaque, 3 anos mais tarde, se casa.
Espere um pouco, aqueles treinados na leitura messiânica já podem ver os paralelos. Quando conseguimos ver que Isaque como um adulto que participa ativamente de toda empreitada, fica claro que Isaque é Yeshua!
A macabra história de um quase sacrifício humano, se transforma num mapa profético para se entender uma história que iria acontecer cerca de 2000 anos mais tarde.
Em Atos 5.30 está escrito que Jesus foi pendurado num madeiro, ou seja, num עֵץ/ etz. Ora essa é exatamente a mesma palavra que é usada para descrever o que Isaque carregava.
Isaque carregou a lenha do holocausto, ou seja a עֵץ/ etz para o holocausto.
Jesus carregou a cruz para o sacrifício, ou seja a עֵץ/ etz para o holocausto.
Isaque carregando a lenha/ etz / עֵץ para o holocausto é Jesus carregando a cruz / etz / עֵץ até o monte calvário.
Abraão entregando seu filho é Deus entregando Jesus.
Entender que a entrega de Isaque, poderia estar ligada ao perdão dos pecados, não é uma ideia estranha ao judaísmo. Nos textos rabínicos compilados nos anos 300 e 500 a.C., sábios judeus mencionam que Abraão teria feito esse pedido:
י אלהינו בשעה שיהיו בניו של יצחק באים לידי צרה תזכור להם אותה
העקידה ותימלא עליהם רחמים.
Bereishit Rabba 56:10
Que seja Tua vontade, ó Senhor nosso Deus, que quando os filhos de Isaque vierem diante de Ti com pecados e más ações, que a Akeda (dedicação de Isaque a ti) seja lembrada por eles, e que Tu sejas cheio de misericórdia.
Bereishit Rabba 56:10
Além disso, no importante feriado de Rosh Hashaná, que também representa o dia do juízo, quando se toca o shofar de chifre de carneiro, é lembrado que Isaque foi dedicado a Deus e que um carneiro foi morto em seu lugar.
A mensagem de sacrifício substituído ( o carneiro em lugar de Isaque) faz eco no sacrifício de Jesus no nosso lugar.
Finalizando os paralelos, temos que, após o evento dramático em cima do monte, Isaque desaparece da Narrativa. No nível simbólico é como se ele morresse. Seu nome só é citado quando, de repente, ele ressurge na narrativa justamente para se encontrar com Rebeca.
A união de Isaque e Rebeca acontece três anos depois da Akeda, e, para aqueles acostumados a ligar os pontos, é impossível não ver nesse desfecho o futuro casamento de Jesus com sua noiva judia.
Dois mil anos já se passaram desde que o noivo nos foi tirado. Quando retornará?