Noivado e Casamento
O processo de formação de uma nova família é assunto tão importante que, depois de terminar a criação do planeta e feito o homem Deus declara:
Não é bom que o homem esteja só; far-lhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea.
Gênesis 2.18
Interessante observar que, logo após a formação da mulher, a a primeira frase do homem registrada na Torah também está relacionada ao relacionamento conjugal:
E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada. Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne. Gênesis 2.23 e 24
Essas duas declarações, a feita por Deus, e a feita pelo homem contém princípios e segredos importantes para a vida a dois. Analisemos primeiro o que Deus diz:
Não é bom que o homem esteja só
Ou seja, o homem não deve viver isolado:
far-lhe-ei uma auxiliadora/ רֶעזֵ que lhe seja idônea/ דֶגֶנ.
A mulher, criada juntamente com o homem, possui valor igual a ele. Seu papel, entretanto, é diferente.
Ser uma ajudadora/ רֶעזֵ / ezer , implica na ideia de que ela não é a provedora primária do lar. O homem deve carregar o maior peso no que diz respeito ao sustento do lar. A mulher pode ajudá-lo, porém , não é dela a tarefa de trazer o básico para a família.
Em hebraico, a palavra traduzida como idônea/ דֶגֶנ também significa: em frente de, oposto a. Isso nos leva a entender que além de ser leal ao homem, a mulher deve também ser alguém que lhe mostra a contrapartida de alguma situação. Alguém que, se for necessário, pode se opor a ele, pode confrontá-lo e alertá-lo com o objetivo de ajudá-lo a achar a melhor solução.
A bíblia mostra que, várias vezes, é justamente a mulher que tem o poder de demover o homem de algum propósito equivocado ou alertá-lo sobre algo que ele não está vendo.
Os ocasionais confrontos entre os cônjuges, devem terminar em soluções acordadas entre ambos.
Após essa breve análise sobre o que Deus diz, vejamos agora o que o homem diz:
E disse o homem: Esta, afinal, é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada.
O homem deve reconhecer na mulher o mesmo nível de excelência que existe nele. Ele deve falar palavras de afirmação e encorajamento à sua esposa.
Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne.
Aqui temos algo sensacional! Adão vislumbrando o futuro declara um dos princípios mais básicos para um bom casamento: os noivos devem primeiro ser capazes de deixarem pai e mãe para depois serem capazes de se unir um ao outro.
Esse importante princípio, se observado pelos casais, é capaz de evitar inúmeros problemas desnecessários.
Muitos casamentos são desfeitos devido à influência indevida dos sogros na vida do casal. O casal precisa ser capaz de ter independência econômica e emocional.
O jovem casal deve honrar seus pais, porém não lhes deve mais obediência. Se houver conflito entre o casal e o pai de um dos cônjuges, prevalece lealdade entre o casal. Os noivos devem ser capazes de agir com autonomia e desapego. O padrão de vida que eles tinham na casa de seus pais não será necessariamente o mesmo daquele que eles irão estabelecer no novo lar que se forma.
A lealdade conjugal passa também pela fidelidade sexual, pelo respeito aos compromissos financeiros e pelos acordos em geral.
A tradição da cerimônia de Casamento:
Nos tempos bíblicos vemos o casamento como um contrato entre duas famílias.
A aliança firmada entre o casal era considerada algo extremamente importante, porém, não existia a cerimônia de casamento como conhecemos hoje e as uniões não eram oficiadas por autoridades religiosas.
No Novo Testamento, é citado uma festa de casamento. A celebração se dá na casa dos pais da noiva, e não em um templo religioso. Apesar de não nos ser dado muitos detalhes sobre a festa, podemos perceber, como o casamento era valorizado pois foi justamente naquela ocasião que Yeshua fez o primeiro milagre.
Muitas das tradições que passaram a fazer parte do ritual de casamento judaico se desenvolveram bem mais tarde. A tradição de se casar ao ar livre, por exemplo, surgiu como forma de se opor aos casamentos cristãos que eram sempre celebrados em algum edifício religioso.
Outro ponto do ritual de casamento judaico que diverge do cristianismo é o destaque dado ao noivo. O noivo recebe uma honra especial quando, a noiva dá sete voltas ao redor dele. Esse gesto pode ser entendido como um ato profético: a noiva, ou seja a Kehilah/Igreja, gravita ao redor do Messias,
representado pelo noivo.
Essa interpretação está de acordo com as diversas figuras de linguagem presentes tanto no Novo Testamento como no Tanach. Vejamos:
Desposar-te-ei comigo para sempre; desposar-te-ei comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias; desposar-te-ei comigo em fidelidade, e conhecerás ao SENHOR.
Oséias 2.18-19 (palavras de Deus endereçadas a Israel)
Porque zelo por vós com zelo de Deus; visto que vos tenho preparado para vos apresentar como virgem pura a um só esposo, que é Cristo. II Coríntios 11.2
No judaísmo, o casamento é realizado em duas etapas: kiddushin e nisu’in.
Embora essas duas partes sejam atualmente executadas no mesmo dia, nos tempos talmúdicos, elas eram separadas por um período de tempo significativo, até doze meses (Ketubot 48b).
A primeira parte, kiddushin, envolve:
- kesef: dar algo de valor (anel)
- shetar: um documento com a declaração de intenção firmando o
compromisso - um contrato entre o casal: o Ketubah
- duas testemunhas.
Depois do kiddushin, o casal é considerado “casado” e, portanto, uma mulher não pode se casar com outro homem e o relacionamento só pode ser encerrado por meio de um get/divórcio. Ou seja, o fato de duas pessoas terem empenhado sua palavra se comprometendo uma com a outra era considerado tão importante, que uma mudança de planos implicaria em divórcio.
Segunda e última etapa do casamento consiste de uma cerimônia efetuada debaixo de uma chupá, ou seja, um dossel de casamento onde são citadas Sete Bênçãos. Após essa cerimônia, o casal passa a viver na mesma casa e desfrutar de intimidade sexual.
O direito ao sexo é explicitado como sendo um direito da mulher. Afinal de contas, a primeira ordem de Deus ao homem foi: faça sexo com sua esposa.
A sexualidade humana conecta pessoas e pode criar vínculos profundos entre elas. Além disso, o resultado da intimidade humana pode resultar em mais vidas, por isso, é importante haver proteção, cuidado e compromisso. O casamento, é assim, o contexto adequado para o sexo.
Antes da cerimônia Antes da cerimônia os noivos passam pelo ritual de tevilah/imersão. Eles devem
ir a um micvê, ou a rio ou mar e mergulhar completamente nas águas do batismo fazendo orações e citando bênçãos/brachot.
No Shabat antes da cerimônia, o noivo (e às vezes a noiva) é chamado para fazer a leitura de uma aliá, ou seja, de uma parte da Parashá na sinagoga.
Um casamento judaico não é realizado no Shabat.