Templo, Sinagogas e Casas 

Templo, Sinagogas e Casas 

A ideia de que a igreja teria sido inaugurada tão somente após a ressurreição de Yeshua só ganhou força após a morte da liderança judaica da igreja/congregação. A influência gentílica modificou o conceito de igreja e esse mito se transformou em um dos mais fortes pilares do cristianismo. 

Essa nova definição criada pelos “Pais da Igreja” trouxe a falsa impressão de que a igreja de Moisés não era a mesma à qual Yeshua se referiu. Outro problema com o conceito moderno de igreja desvinculado do judaísmo é que toda uma geração de novos convertidos da atualidade está convicta de que deve evangelizar usando o “modelo dos discípulos”. 

O que as pessoas têm em mente quando mencionam esse modelo é uma visão anacrônica de que havia reuniões menores em casas e reuniões maiores nos grandes salões de culto. 

Comparar os grandes auditórios com o Templo de Jerusalém é uma pretensão quase cômica. Entretanto, por mais bizarro que isso seja, acabou sendo aceito como verdade. Reduzir a vida religiosa a “templo” ou grandes sedes e casas, distorce completamente o contexto e, convenientemente, elimina as sinagogas. 

O único acerto dessa estratégia foi afirmar que os discípulos se reuniam nas casas:

Diariamente perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração 
Atos 2.46

E todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo. 
Atos 5.42

As sinagogas funcionavam como local de estudo e pregação tanto dentro como fora de Jerusalém: 

Enquanto Paulo os esperava em Atenas, o seu espírito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade. Por isso, dissertava na sinagoga entre os judeus e os gentios piedosos; também na praça, todos os dias, entre os que se encontravam ali. 
Atos 17.16-17

Todos os sábados, em Corinto, Paulo  discorria na sinagoga, persuadindo tanto judeus como gregos. 
Atos 18.4

Os nazarenos tiveram problemas em algumas sinagogas. Certa ocasião, Paulo teve de encontrar outra alternativa para o ambiente de estudos e evangelismo: 

Durante três meses, Paulo frequentou a sinagoga, onde falava ousadamente, dissertando e persuadindo com respeito ao reino de Deus. Visto que alguns deles se mostravam empedernidos e descrentes, falando mal do Caminho diante da multidão, Paulo, apartando-se deles, separou os discípulos, passando a discorrer diariamente na escola de Tirano. Durou isto por espaço de dois anos, dando ensejo a que todos os habitantes da Ásia ouvissem a palavra do Senhor, tanto judeus como gregos. 
Atos 19.8-10

Nem todas as sinagogas acolheram a mensagem, entretanto, eventos como o acima descrito, não são evidências de que a sinagoga tenha sido abolida pelos nazarenos, pelo contrário, confirma que ela era um ponto de referência importante para eles.

Eliminar as sinagogas e sugerir que edifícios de organizações religiosas atuais estariam no lugar do Templo, é um grave erro. Nenhuma denominação deveria utilizar o termo templo para se referir ao seu local de culto. O único templo que existiu é o Templo de Jerusalém.

Hoje, o local em que os nazarenos se reúnem é, na maioria das vezes, chamado de sinagoga, kehila ou comunidade.  É verdade que essas palavras são todas sinônimas de igreja. Entretanto, como o uso atual da palavra igreja se refere a organizações cristãs, a escolha de não usar a palavra igreja reflete a opção por se diferenciar.

É claro que os nazarenos também se visitam e não existe nenhuma proibição quanto a se estudar a Bíblia em pequenos grupos caseiros.  As sinagogas atuais espalhadas pelo globo, sejam elas messiânicas ou não, preservam  sua função educativa, o estudo da Torah, e não pretendem substituir o Templo de Jerusalém. 

Uma importante diferença no uso da expressão Templo de Jerusalém em relação aos tais “templos” atuais, é que os casamentos nos tempos bíblicos eram celebrados nas casas, no seio da família e não no Templo de Jerusalém. Não é incomum encontrarmos pessoas pesarosas por não terem tido “um casamento na igreja”. 

Essa é uma tradição moderna e precisa ser entendida como tal. Na Bíblia não é mencionada a função de autoridades religiosas como celebrantes. Os oficiadores eclesiásticos que conhecemos hoje não existiam nos tempos bíblicos. Afinal de contas, casamento era, um contrato entre um casal com a benção de suas famílias, não necessitando do aval da “igreja” e nem do Estado.

Além das sinagogas não tentarem substituir o Templo, também não pretendem se transformar em mega-organizações com sedes enormes. O Templo era um local de visitação de grandes dimensões por receber pessoas do mundo inteiro. Era nas sinagogas que as pessoas se encontravam, e conviviam. Segundo a Enciclopédia Britânica: “Alguns estudiosos sustentam que existia uma sinagoga mesmo dentro do recinto do Templo (…)”, ou seja, um local de estudo e comunhão menor era indispensável.

Achados arqueológicos mostram inúmeras sinagogas de tamanho bastante modesto espalhadas por Israel. Isso mostra que elas existiam paralelas ao Templo. 

Com a destruição do Templo no ano 70 d.C., as sinagogas passaram a ser o local mais importante de encontro dos judeus e tiveram um papel fundamental para a manutenção da fé, da identidade judaica e para a vida em comunidade. Elas sobreviveram a ação do tempo e proporcionaram um ambiente acolhedor para os crentes dispersos pelo mundo. Seu tamanho modesto, proporciona até hoje uma atmosfera familiar onde as pessoas encontram acolhimento e cuidado.